"Hereditary foi escrito e realizado por Ari Aster e protagonizado por Toni Collette, Milly Shapiro e Alex Wolff. O filme conta a história de uma família de quatro, cuja mãe interpreta cenas da sua vida com maquetes. Após algumas tragédias, coisas sinistras começam a acontecer com a família e temos o nosso filme.
Adoro terror. Sempre tive um fascínio pelos filmes "Que não podia ver" quando era mais novo. Porque eram demasiado violentos ou porque eram muito assustadores. Não os ver apenas me deixava ainda mais curioso. Quando finalmente conheci o mundo do género do terror fiquei completamente fã, isto porque, no meu ponto de vista, este tipo de cinema é dos mais influentes que temos e açambarca uma grande variedade de sub-géneros, dos quais, o meu preferido é o terror psicológico.
Contudo sofre de um problema. Saem imensos filmes por ano, porém a maior parte não se aproveita, mas os que são bons são realmente bons. Nos últimos anos temos assistido ao ressurgir do terror em boa qualidade. Filmes como a saga "Conjuring" de James Wan, "The Witch" de Robert Eggers", "The Babadook" de Jennifer Kent, e o mais recente exemplo, "Get out" de Jordan Peele, têm demonstrado que é possível entregar filmes deste tipo que tenham uma boa realização, excelentes atores e claro um bom roteiro. Posso dizer que Hereditary se junta aos filmes que mencionei anteriormente, como um dos melhores dos últimos anos neste género.
Mais uma vez,a produtora A24, que também produziu "The Witch", entrega-nos um excelente filme de terror. A realização de Ari Aster é muito inteligente e firme. O realizador opta por criar uma atmosfera incrivelmente tensa, e nunca quebrada pelos tão famosos "jump scares" que caracterizam o género, pelo contrário o diretor opta por manter a tensão do início ao fim, conferindo às cenas ditas mais assustadoras, um clima tenebroso. A realização também é muito focada no detalhe, apresentado planos abertos com várias coisas ao mesmo tempo, e sem nunca largar para um lado mais convencional e nos assustar de uma forma barata.
O roteiro é, a meu ver, altamente inspirado num dos maiores clássicos do terror, "Rosemary's Baby" de Roman Polansky, e além disso, toma rumos que deixam o espetador em constante mistério sobre o que se estará realmente a passar com as personagens. Personagens essas que são brilhantemente interpretadas.
Os atores fazem um excelente trabalho. Toni Collette passa toda a angústia de uma mãe que lida com a perda dos seus entes queridos e toda a dor que isso traz, a par da sua confusão perante o que acontece, a atriz dá-nos uma das melhores interpretações do ano para já. Também Milly Shapiro, apesar do pouco tempo em tela, tem aqui o seu primeiro papel como atriz, e entrega uma performance tenebrosa, e com um tique que simplesmente não saía da minha cabeça, e digo isto como um elogio. De destacar também o ator Alex Wolff, que passa muito bem toda a tristeza que ele carrega e o medo que a personagem sente em diversas cenas é palpável.
O filme não é perfeito. Eu penso que o ritmo no início do segundo ato começa a arrastar um pouco, o suficiente para eu o sentir, o que nunca é positivo, mas não dura muito tempo, e o filme rapidamente volta a ganhar pernas. Outro aspeto negativo foi uma cena inteira de diálogo expositivo, sendo que já tínhamos percebido o que se passava em cenas anteriores, e o filme se baseava até então a mostrar coisas em detalhe em vez de as explicar, fiquei um pouco desiludido com essa cena, mas apenas essa.
Num mercado de cinema em que os filmes de terror cada vez mais parecem encontrar a sua voz, o terror independente e do tipo psicológico mais uma vez se destaca como o meu preferido. A A24 está de parabéns, "Hereditary" é um excelente filme, com ótimas performances, uma firme realização, que entrega um trabalho assustador e tenebroso, que te vai deixar a pensar.
Nota:9/10
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